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sábado, 15 de setembro de 2012

Liberdade

“Na minha época era bem diferente”, escuto da minha avó. “Esse mundo não tem mais jeito”, diz o senso comum. “O futuro não é mais como era antigamente”, cantava Renato Russo.
Há quem diga que o frenesi (além a solidão) é o mal do século. Há quem tome como base as transformações societárias. E há quem junte tudo isso e um pouco mais e só viva de gastar palavras pra resmungar sem sair do sofá.
Não nego os pesares, as injustiças, as desigualdades que acometem nosso tempo. Mas também não deixo de olhar as coisas com o olhar de esperança. De quem acredita. De quem  se admira com os detalhes. De quem sonha com um mundo melhor.
Quer saber de duas coisas simples que me encantam? A fala das crianças e as pipas no céu. Simples, não? Pra mim são especiais.
Impossível não se encantar com a inocência destilada em cinco minutos de prosa com um pequeno. Suas visões e observações inusitadas, suas surpresas. A pureza que habitam faz tudo ficar mais bonito, mais feliz.
Assim também é com as pipas, hoje tão raras por aí. Suas cores, sua leveza despretensiosa, sua dança. Ver uma pipa voando no céu me atiça a vontade de liberdade, me atiça uma espécie de alegria que só a beleza das minúcias é capaz de proporcionar.
O engraçado é que um dia desses, estes meus dois exemplos se encontraram e me arrancaram sorrisos inevitáveis. Distraída e apressada saindo de casa, observei duas crianças brincando na rua. Os dois meninos de aproximadamente oito anos de idade olhavam pro céu e conversavam. E eis que um diz suspirando:
“Poxa…a gente podia voar, sabia?”
E o outro concorda: “É mesmo! Se eu voasse ia pegar todas aquelas pipas que começam a cair do céu”.
Sorri sozinha. E os meninos logo iniciaram outro assunto deliciosamente cabível em suas férteis imaginações. Sem saber que seus desejos, ainda que não pudessem ser realizados, me serviriam de inspiração pra esta crônica.
Lembro que quando li o livro “Mulheres de Cabul” fiquei tocada com o texto que ainda na contra-capa traduzia a realidades daquele povo:  “é proibido ouvir música, é proibido levantar pipas…” E mesmo familiarizada ao assunto, a privação de liberdade tão polêmica e manjada ainda parecia impressionar.
Eu ainda não sei se tem razão a minha avó, o Renato Russo ou a maioria de nós. Na verdade tenho medo de que todos estejam corretos. Mas acreditando que é de fé e ousadia que se faz o avesso dos sonhos impossíveis, penso que enquanto houver vontade de liberdade no coração, pipas no céu e crianças que ainda não perderam sua capacidade de sonhar, haverá esperança no mundo.
Yohana Sanfer


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